“Um dos maiores problemas de comunicação, tanto a de massas como a interpessoal, é o de como o receptor, ou seja, o outro, ouve o que o emissor, ou seja, a pessoa, falou. Raras, raríssimas, são as pessoas que procuram ouvir exatamente o que a outra está dizendo.
Diante desse quadro venho desenvolvendo uma série de observações:

1) Em geral não se ouve o que o outro fala: ouve-se o que ele não está dizendo.

2) Não se ouve o que o outro fala: ouve-se o que se quer ouvir.

3) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que já escutara antes e o que se acostumou a ouvir.

4) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que se imagina que o outro ia falar.

5) Numa discussão, em geral, não se ouve o que o outro fala. Ouve-se quase que só o que se pensa para dizer em seguida.

6) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que se gostaria que o outro dissesse.

7) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se apenas o que se está sentindo.

8) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que já se pensava a respeito daquilo que o outro está falando.

9) Não se ouve o que o outro está falando. Retira-se da fala dele apenas as partes que tenham a ver consigo.

10) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se o que confirme ou rejeite o seu próprio pensamento. Ou seja, transforma-se o que o outro está falando em objeto de concordância ou discordância.

11) Não se ouve o que o outro está falando. Ouve-se o que possa se adaptar ao impulso de amor, raiva ou ódio que já sentia por quem está a falar.

12) Não se ouve o que o outro fala. Ouve-se da fala dele apenas os pontos que possam fazer sentido para as idéias e pontos de vista que no momento nos
estejam influenciando ou tocando mais diretamente.

Ouviu?”

Artur da Távola

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