(…) Para especialistas na obra de Lobato, “Caçadas de Pedrinho” permite aos pequenos uma reflexão sobre a realidade brasileira, é ousado por usar recursos de humor e ironia, estimula a imaginação das crianças e apresenta uma denúncia contra a burocracia oficial pintando o governo como um paquiderme, comparado a um rinoceronte sem agilidade nem iniciativa para resolver problemas simples, como uma invasão de onças em um sítio. As crianças são os heróis da história: usam pernas de
(…)O livro é dividido em duas partes: (…)
A segunda parte narra a fuga de um rinoceronte do circo, seu aparecimento no Sítio e as tentativas de sua captura pelo “Departamento Nacional de Caça ao Rinoceronte”, cuja única finalidade era “não encontrar o paquiderme”. Emília, tornando-se amiga do bicho, decide ajudá-lo e, para tal, faz as armas dos detetives falharem e Quindim, o rinoceronte, atacá-los. Consegue, também, espantar o seu verdadeiro dono, que aparece no Sítio para recuperar o animal.
(…) A presença ativa do leitor torna-se aqui fundamental, devendo ele questionar o que o narrador conta e suspeitar da sua intenção ao narrar, por diversas vezes, as atitudes dos funcionários estatais. As peripécias dos detetives que integram o “Departamento Nacional de Caça ao Rinoceronte” são ironicamente qualificadas como “grandiosas”. Suas providências para caçar o paquiderme são questionáveis; baseiam-se em suposições aparentemente complexas, entretanto desprovidas de qualquer fundamento prático, como, por exemplo, a instalação de uma linha telefônica para ligar a casa de Dona Benta ao acampamento, com o propósito de discutir com a moradora os detalhes da caça. A falta de eficácia e de capacidade técnica dos burocratas, diante da impraticabilidade e da inutilidade dos meios por eles agenciados, são questões colocadas ao leitor, fazendo-o refletir.
Os habitantes do Sítio do Picapau Amarelo não se calam diante da maneira como a caçada é conduzida e contestam a autoridade do governo. Cabe a eles também emitir pareceres sobre o assunto, e o fazem de forma direta: “- Mas por que não discutiu isso durante a semana em que o rinoceronte andou sumido e a passagem pela porteira esteve completamente franca? Acho que Vossa Rinocerôncia perdeu um tempo precioso” e “Considerava uma súcia de idiotas, um verdadeiro bando de exploradores”.
O governo, assim, é apresentado como uma entidade misteriosa, que se pauta por razões obscuras e que não pode ser contrariado. Emília, por exemplo, pede ao rinoceronte que ele volte a deitar-se em frente à porteira, sem o que não pode ser inaugurada a linha telefônica, cuja construção precisava ser justificada. Como o governo também não pode ser desrespeitado, Cléu transmite um recado de Dona Benta aos burocratas “com outras palavras para não ofender o governo”. Por não estabelecer os critérios pelos quais toma decisões, o governo acaba sendo mitificado: “Diz Cléu que são ‘coisas do governo’, um puro mistério. O rinoceronte ficou pensativo. Devia ser uma bem estranha criatura esse tal governo, que fazia coisas acima do entendimento até de Emília!.
http://noticias.bol.uol.com.br/brasil/2010/11/07/alvo-de-veto-quotcacadas-de-pedrinhoquot-critica-burocracia-do-governo-analisa-especialista.jhtm